Fósseis de dinossauros são encontrados às margens da RSC-153
Caio Scartezini de Araujo, estudante de Paleontologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, Porto Alegre). Enviou ao Jornal uma pesquisa recém-publicada em uma revista internacional sobre a paleofauna triássica encontrada em Vale do Sol.
Neste trabalho, descreveu fósseis que viveram há cerca 230 milhões de anos, encontrados em três afloramentos ao longo da RSC-153, no limite do município de Vale do Sol com Vera Cruz. Agora Vale do Sol passa a integrar a ampla lista de municípios gaúchos com registros fósseis do período Triássico, como Candelária, Santa Maria e Agudo.
Quando esse trecho da RSC-153 foi aberto, em 2010, chamaram a equipe de paleontologia da antiga Fundação Zoobotânica RS, que agora faz parte da SEMA-RS, para verificar se haviam fósseis e coleta-los. Junto com essa equipe estavam Carlos Rodrigues e Belarmino do Museu de Candelária, que sempre trabalham em parceria com as instituições que fazem coletas paleontológicas na região. No seguimento dos trabalhos foi se verificando em quais pontos com afloramento de rocha tinham fósseis e quais não tinham.
“Os fósseis ali encontrados revelaram uma fauna de vertebrados terrestres bastante diversificada, e as informações fornecidas por ela nos ajudaram a entender melhor a idade relativa das rochas da região e como elas se correlacionam com as rochas triássicas da Argentina. A pesquisa reforça a importância da bioestratigrafia, área da paleontologia que busca ordenar as camadas de rochas no tempo baseando-se nas espécies fósseis encontradas nelas”, explicou Caio.
É na região central do Rio Grande do Sul que encontraram as rochas do Triássico Brasileiro com uma maior concentração de fósseis de animais terrestres. Essa região tem chamado atenção no mundo inteiro por abrigar os fósseis dos dinossauros mais antigos do mundo. No entanto, essas rochas afloram em pontos dispersos pela faixa central do estado, desde Venâncio Aires até São Pedro do Sul. E como a análise para determinar a idade dessas rochas é muito cara, os paleontólogos usam outro método para entender a idade relativa delas: a bioestratigrafia.
Os três afloramentos encontrados às margens da RSC-153, no limite de Vale do Sol com Vera Cruz, com uma fauna de animais que viveram há aproximadamente 233 milhões de anos, ajudou muito a encaixar várias peças importantes desse quebra-cabeça. “Ali se encontrou os três animais que são utilizados como guias para entender e organizar no tempo as rochas que abrigam os registros dos primeiros dinossauros brasileiros. Esses animais são os dois rincossauros Teyumbaitae Hyperodapedon (répteis herbívoros), e o cinodonte Exaeretodon (um parente distante dos mamíferos)”.
Vale do Sol revelou dois registros inéditos, a ocorrência de Teyumbaitaem camadas abaixo de registros de Hyperodapedon, mostrando que esses dois rincossauros coexistiram no triássico brasileiro. E o registro de Exaeretodon em camadas acima de ocorrências abundantes de Hyperodapedon, confirmando as proposições anteriores de que a sucessão desses dois animais no tempo ocorreu no Brasil de forma similar aos observados nas rochas triássicas da Argentina.
A pesquisa publicada dia 6 de junho de 2025, na revista internacional Journalof South American Earth Sciences (Elsevier), foi desenvolvida ao longo de 7 anos (2018-2024) com esforços coletivos de pesquisadores da UFRGS, Unipampa- São Gabriel, UFRJ - Museu Nacional e do Museu Argentino de Ciências Naturales “Bernardino Rivadavia” (Buenos Aires, Argentina).
“Os trabalhos de campo na região iniciaram em 2011, já totalizando mais de 100 espécimes coletados pela UFRGS, UNIPAMPA e Museu Municipal Aristides Carlos Rodrigues (Candelária). Essa região abriga um imenso potencial para embasar muitas descobertas e pesquisas ainda. Os materiais coletados continuam sendo preparados por estudantes, para entendermos cada vez melhor quem eram e como viviam os animais dessa região”, finalizou.
Para mais detalhes é possível baixar o artigo de graça, até agosto, nesse link https://authors.elsevier.com/a/1lIWc3BkFShcST.
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